segunda-feira, 16 de maio de 2011

"Por uma Vida Melhor", de Heloísa Ramos - "Certo" ou "Errado"?

 Distribuído pelo MEC, através do Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos, a 484.195 alunos de 4.236 escolas, o livro "Por uma Vida Melhor" (Coleção Viver, aprender), de Heloísa Ramos, retoma uma velha discussão: afinal, existe "certo" e "errado" quando o assunto é o idioma?

 O certo é que não cabe escrever para uma parcela da sociedade, dita de linguagem formal, sem levar em conta a escrita que nela predomina. Assim, escrever num artigo científico que "nós pega o peixe" é não querer ser compreendido.   
Da mesma forma conversar com um cidadão iletrado e querer que ele entenda quando alguém diz que "o léxico de um idioma faz parte de um sistema abstrato de signos inter-relacionados" é dificultar a comunicação.

O errado é tratar a parcela da mesma sociedade, dita inculta, como se esta fossem  animais desprovidos de meios sistemáticos de comunicar ideias ou sentimentos. É aqui que reside a discriminação, o preconceito linguístico.

A própria Constituição Federal, a nossa Carta Magna, já apresenta uma discriminação embutida. Afinal, seus termos jurídicos e a sua organização textual são desconhecidos da maioria da população. 

Como conhecer os seus direitos e deveres se o cidadão não consegue ler o que para ele é destinado?  

Será que o que é culto não pode ser popular?

Não sei se as escolas públicas são o local adequado para aproximar o falante de sua própria língua, já que todos que ali estão teoricamente almejam novos conhecimentos e capacidades para abrir os portões dos palácios socioculturais dos quais não fazem parte; 

mas que tá na hora de nossos acadêmicos e legisladores reverem as suas posturas diante do idioma brasileiro, que insistem em chamar de português, isso tá!

   
Ou é somente vendedor de livros esotéricos, políticos e jogador de futebol que têm vez nos chá das cinco?



21 Comentários:

Às 17 de maio de 2011 às 08:45 , Blogger Inho disse...

Perfeito! Vamos nivelar por baixo, pois educação é bobagem. Afinal de contas, um povo burro, que não sabe pensar por si só, é mais fácil de manobrar e dominar. Basta um bolsa-voto qualquer. Pra que ensinar ao povo ler e escrever corretamente? Afinal, assim corre-se o risco do povo entender a constituição, e querer se insurgir contra o sistema dominante.
Melhor assim.
É nóis na fita mano!!!

 
Às 18 de maio de 2011 às 10:30 , Blogger Gustavo Razzera disse...

Leiam o capítulo inteiro e depois tirem suas conclusões.
http://www.advivo.com.br/sites/default/files/documentos/v6cap1.pdf

 
Às 18 de maio de 2011 às 13:51 , Blogger eu-sou-eu-jacer-e-bcho-dagua disse...

Assim é o Brasil desde 1925 com a flor do Lácio inculta e bela até pelo menos 2011.

Sergio Rosa
Analista de sistemas
srosa@alternex.com.br


Pronomiais

Oswald de Andrade

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

1925

 
Às 18 de maio de 2011 às 14:23 , Anonymous Anônimo disse...

Ah sim, claro. O povo, por ser iletrado, não entende as construções feitas na norma culta do idioma. A solução é ampliar o acesso do povo ao ensino do idioma? Claro que não! Vamos é dizer que o iletrado é que está certo e a norma culta que se rebaixe! Afinal, não queremos um povo culto, queremos?

 
Às 18 de maio de 2011 às 14:33 , Anonymous Anônimo disse...

Gustavo, eu li o capítulo e me deparei logo de início com duas mentiras.

"Contudo, é importante saber o seguinte: as
duas variantes são eficientes como meios de
comunicação. A classe dominante utiliza a norma
culta principalmente por ter maior acesso
à escolaridade e por seu uso ser um sinal de
prestígio."

A norma culta não é usada por questão de prestígio, e sim porque é MAIS eficiente na transmissão da mensagem.

Como é que um usuário da "variante popular" vai expressar, por exemplo, a noção de "passado do passado" que o pretérito mais-que-perfeito evoca?

 
Às 18 de maio de 2011 às 22:08 , Blogger Wellington Ramos disse...

Endireita,

Como assim "a norma culta que se REBAIXE!!!?

Rebaixar?!!! Por quê?

 
Às 19 de maio de 2011 às 04:45 , Blogger Aldo Jung disse...

Belo texto, Well. Dá pra resumir nisso:
"mas que tá na hora de nossos acadêmicos e legisladores reverem as suas posturas diante do idioma brasileiro, que insistem em chamar de português, isso tá!"
Um abraço!

 
Às 19 de maio de 2011 às 22:13 , Blogger Wellington Ramos disse...

Obrigado Aldo Jung.

Existem duas publicações do linguista Marcos Bagno que já trataram do assunto:

"A Norma Oculta" (Parábola Editorial);

"Preconceito Linguítico - o que é, como se faz" (Editora Contexto).

Marcos Bagno é professor de Linguística da UnB e autor de diversos livros sobre o assunto.

 
Às 20 de maio de 2011 às 11:02 , Blogger Renata disse...

Como disse INho, é isso ai!!!
E acrescento: Pra que estudar se podemos falar tudo errado? Vamos acabar com a matéria PORTUGUES, na escola.

 
Às 21 de maio de 2011 às 03:47 , Blogger Unknown disse...

NUNCA, NENHUM LINGUISTA EM SÃ CONSCIÊNCIA AFIRMOU QUE NÃO É NECESSÁRIO APRENDER A NORMA CULTA, MUITO PELO CONTRÁRIO! Ela vai oferecer mais um opção de uso e permitir ao falante adequar sua fala de acordo com o contexto do comunicação.

fixacwb
"A norma culta não é usada por questão de prestígio, e sim porque é MAIS eficiente na transmissão da mensagem." ERRADO. No dia-a-dia, a norma popular se mostra mais expressiva e eficiente. Já num contexto de discussão acadêmica, por exemplo, a norma culta se faz essencial.

"Como é que um usuário da "variante popular" vai expressar, por exemplo, a noção de "passado do passado" que o pretérito mais-que-perfeito evoca?" COM O TEMPO COMPOSTO. TINHA FEITO, em vez de fizera, por exemplo. Além do mais, há algumas estruturas da gramática normativa que são desnecessárias no contexto informal, portanto não há problema em se comunicar nesse contexto usando a variante popular.

Well, parabéns pelo ótimo artigo, sério e lúcido.

 
Às 22 de maio de 2011 às 10:25 , Blogger Unknown disse...

Vamos nivelar por baixo, ou pior,
criar dois tipos de educação.
Uma educação mais formal e tradicional para a classe média (escola particular) e uma educação capenga, com sapos na merenda, com professores apanhando para os pobres (escola pública).
Se o MEC acha que tem razão, então porque não podemos escrever "os peixe" em uma redação de vestibular? E os Concursos Públicos?
O próprio Estado está excluindo seus cidadãos.

 
Às 22 de maio de 2011 às 14:31 , Blogger Alvaro Jr disse...

BURROS! IMBECIS! (Ou será inbessis ou ainda inbeçis?).
A idéia de ensinar(?) que "Nós pega o peixe" pode ser encarada como correta não tem defesa. A começar pelo fato de que a forma 'popular' analfabeta, seria: "Nois pega o pexe". Usar as regras da gramática e a grafia correta das palavras ESTÁ MUUUIIIIITO longe do 'pedantismo' da forma culta. Qualquer pessoa 'do povo' que ouvisse o que escrevi acima entenderia o sentido. Para falar na linguagem adequada para o local, ocasião e público, para o perfeito entendimento, não há que se fazer de analfabeto se o interlocutor o for.

 
Às 22 de maio de 2011 às 16:13 , Blogger Unknown disse...

Responsabilizam Agripino Grecco ser autor da frase "Não li e não gostei." Esse verdadeiro intelectual que se dizia surto para não ouvir besteira, certamente discordaria de alguns falsos intelectuais e jornalista azedos e mal informados que anda por aí insuflando a mediocridade a ser contra este livro que demonstra que sua autora tem o devido conhecimento antropológico, além de linguístico. Está de parabéns a autora Heloísa Ramos e os membros do conselho que votaram positivamente pelo "Por uma vida melhor".

 
Às 24 de maio de 2011 às 22:20 , Blogger Marcos Montanhês disse...

Chêra o mar , sente as folhage verdinha , óia o céu estrelado , ouve os barui dos grilo. Que que cê da de importança ? Cê qué percebê o que eu to mostrano ou vai ficar ai chamando tudo de erro com essa cara amarrada ?

 
Às 28 de maio de 2011 às 13:35 , Blogger Pedro Lobo Martins disse...

Só aprendendo na escola a norma culta uma pessoa, mesmo a do sertão de Cabrobó, pode passar a ser capaz de conquistar para si quantas almas quiser. É isso que defendo em meu blog:

http://pedrolobomartins.blogspot.com/2011/05/as-almas-dos-cidadaos-do-mundo.html

 
Às 3 de junho de 2011 às 10:28 , Blogger Aurilene disse...

Parabéns pelo texto, Well. Isso mostra que você é uma pessoa bem informada a respeito do assunto "linguísta". Diferentemente dessas pessoas que perdem tempo escrevendo bobagem sem conhecer os estudos da língua, afirmando aquilo que não sabem.
Gostaria de saber se esses críticos do "erro" flexionam todos os tempos verbais de acordo com a gramática normativa. Se eles falam "buscar-me-eis, ensiná-lo-ei... usam isso na linguagem falada e na linguagem escrita na internet? Acho que nem os próprios gramáticos.
Os estudiosos da língua não afirmam que "vale tudo", mas falam da competência linguística, do falante competente que sabe se comunicar em qualquer situação, seja formal ou informal.
Não li o livro da professora Heloísa, porém, acredito que o seu objetivo (como é o ponto de vista linguístico) não é isso que estão criticando.
Vamos se informar, povo!

 
Às 13 de junho de 2011 às 16:39 , Anonymous Anônimo disse...

Parabéns pelo artigo Well.
A língua é dinâmica e por isso sofre variações constantemente, sejam elas regionais, culturais ou mesmo de faixa-etária.
Percebo que alguns comentários devem ser de pessoas que sequer se deram ao trabalho de ler o livro em questão. Nem mesmo o capítulo um, assim como a maior parte da mídia.
As pessoas devem aprender sim a língua culta, mas querer que a linguagem coloquial seja esquecida, ou mesmo ignorada é muita pretensão. E qual pode ser o mal de se utilizar a forma de comunicação que a criança conhece para ensinar a língua culta?
Atire a primeira pedra quem pede um ósculo ou chega numa padaria e diz: dar-me ás um café...

 
Às 20 de junho de 2011 às 07:47 , Blogger Naiara Camp disse...

Como vi preconceito linguístico aqui!!
Então quem faz uso da linguagem coloquial é iletrado e inculto? E o que é isso de "o povo é burro e quer continuar burro", "o jeito é falar que o errado é certo"?
Vi muita sabedoria (mais do que vejo aqui) em falas de pessoas que não passaram da quarta série (hoje quinto ano do Ensino Fundamental). Posso garantir que não é por falta de acesso à norma culta que uma pessoa não poderia explicar a noção de pretérito-mais-que-perfeito. Pois é, ESTÁ na hora de reverem a postura diante do idioma brasileiro e do povo brasileiro.
"Ou é somente vendedor de livros esotéricos, político e jogador de futebol que têm vez nos chá das cinco?" Essa pegunta, sim, resume tudo.

 
Às 25 de junho de 2011 às 02:37 , Blogger Israel disse...

Não percebi nada demais.

 
Às 16 de março de 2012 às 10:56 , Blogger Unknown disse...

Há uma grande confusão entre escrever errado e escrever simples... Língua é código. E códigos só são compreendidos se os que escrevem e os que o leem sabem a chave. Em muitos casos, qual é a vantagem em escrever errado. P.ex., vejo muita gente substituir é por "eh". Por que? Conserto por concerto... Veado por viado... E vai por aí afora. Mas pra que? Penso que se deve, na maioria dos casos, escrever com simplicidade; mas da´pi a escrever errado vai uma grande diferença. Um dos pressupostos da boa escrita é concisão e precisão. É isso que devemos buscar.

 
Às 7 de outubro de 2018 às 12:39 , Blogger Unknown disse...

É incrível como alguma s pessoas não têm a capacidade de entender este texto! Aqui ninguém quer rebaixar a gramática normativa, nem tão pouco dizer que o povo deve permanecer na ignorância. A questão é que não se deve marginalizar alguém pelo fato de não saber aplicar corretamente as regras. Por acaso alguém obriga que uma criança de três anos a diga: "Dê-me água."? ESPERO QUE NÃO, pois isso demonstraria o tamanho da ignorância deste ser! As regras são importantes e continuarão sendo! Porém, a proposta aqui é entender que o erro só existe quando não se compreende o que foi dito; no mais, se a mensagem atinge o seu objetivo, não há erro, mas sim uma inadequação quanto as regras da gramática normativa. Será que essas pessoas que estão criticando o livro nunca estudaram variações linguísticas???????? QUANTA IGNORÂNCIA! E parabéns ao autor do texto!

 

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